Acho o assunto polêmico e por meio desta resenha crítica do texto de Tomaz Tadeu da Silva faço algumas reflexões, polêmicas é claro, mas espero que gere algumas discussões, mesmo que contrárias.
Retomando aquele primeiro exercício feito em aula, onde colávamos em nossa testa alguns rótulos e a partir deles nos relacionávamos com os colegas faço aqui uma referência ao artigo “Produção Social da Identidade e da Diferença” de Tomaz Tadeu da Silva. À procura de identidade o ser humano busca os seus pares, busca seus semelhantes, constrói os seus grupos de convivência. Em princípio, procura uma convivência pacífica, no entanto, alarga as diferenças. Neste caso a identidade parece ser mais redutora ainda, pois quando nos identificamos procuramos, em poucas palavras, definir como somos e conforme o texto “Sou brasileiro e ponto”. Por trás desta afirmação podemos encontrar algo não tão redutor e criador de diferenças, pois sendo brasileiro não sou argentino, não sou português e assim por diante. Neste sentido, aumentam-se as diferenças. Ao mesmo tempo que a expressão serve como redutora, pois não haveria tempo de elencar as negativas para que as pessoas possam compreender que sou brasileiro, o que está em questão é a própria redução de identidade visto que buscamos nos reduzir e não ampliar. Até que ponto a identidade e a diferença são redutoras? Questões de raça, gênero, opção sexual são formas de reduzir e mecanismos de fácil identificação? Sabemos que nos dias de hoje estas questões estão em pauta e merecem certas reflexões acerca de seus resultados no meio social. Questões como estas estreitam ou distanciam as “ diferenças”.
“A identidade e a diferença tem que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social.”(pág.1) A própria identidade e diferença faz com que os choques se tornem inevitáveis. A construção de identidade passa por várias formas de conduta que nos moldam com o tempo, nossas vestes são reflexos desta construção, homem não usa saias e isto inclui a nossa própria língua que codifica fonemas que são estreitamente ligados aos seus significados. A palavra cachorro não teria nenhum significado, como a palavra “abadacatum”, se não fosse a existência do animal. Conforme o texto, que faz referência à Ferdinand de Saussure, “Em outras palavras a língua não passa de um sistema de diferenças”. Inclusive, poderíamos aprofundar as questões ao uso das palavras se usássemos a palavra cachorro se referindo a um ser humano, seria outra significação. Para Derrida, a palavra como símbolo pretende substituir a presença, mas por meio da diferença, sendo assim, não consegue substituir absolutamente o conceito e a presença. Conforme o texto “O exemplo da consulta ao dicionário talvez ajude a compreender as questões da presença e da diferença em Derrida...A definição do dicionário simplesmente nos remete para outras palavras, ou seja, para outros signos.” ( pág. 2)
Mesmo que as identidades são frutos de uma relação de poder e por isso são impostas, na presença com a pessoa vitima desta imposição temos a possibilidade de quebra do preconceito ou manutenção deste. A quebra se dá mediante o conhecer, enquanto a manutenção é a fuga. Este exemplo de relação esta ligado a um fato isolado e individual, mas se analisarmos os grandes grupos que buscam a diferença estamos falando de relações de poder. Ser diferente e assumir diferenças também busca-se privilégios e direitos dentro da sociedade. A busca da diferença, mesmo que esta seja a troco de algumas exclusões, pode demarcar um território de forças, no momento que estão demarcados os territórios da diferença, que se inclui, pode usufruir de uma segurança dentro do grupo, mesmo que este seja alvo de preconceitos. Mesmo que no texto as oposições binárias se manifestam de forma desequilibradas entre os polos, mesmo assim, tudo dependerá do ponto de vista da observação. Nas relações de poder a exclusão pode acontecer de forma sutil. Para Que possa pertencer a um grupo que detêm uma certa relação de força em um campo específico, tem-se sujeitar às ordens e regras que regem o grupo.
Surge uma questão: Há como fixar uma identidade fora de um padrão binário, de oposição? Ao construirmos a identidade logo nos sujeitamos às diferenças. A identidade nacional irá definir-se por meio de limites geográficos e linguísticos que podem se tornar padrão, mas há realmente esta possibilidade? Ela não será arbitrária? No Brasil por exemplo, mesmo com os limites estabelecidos possuímos nações indígenas que pouco conhecem a nossa língua, mas são tidos como brasileiros e sujeitos às nossas leis. Mesmo neste exemplo amplo de construção de identidade coletiva podemos notar algumas arbitrariedades. Diminuindo o campo a ser analisado, aumentam-se os grupos e também as diferenças. Grupos políticos, étnicos, raciais e de gênero também impõe suas diferenças, não estamos discutindo direitos e sim o que produz as diferenças e se há diferença elas que produzem preconceitos, oposições e assim por diante. Na sociedade contemporânea há uma necessidade do cidadão de incluir-se dentro de um grupo, para que dele possa usufruir de direitos e força nas relações de poder. Sendo assim, a busca da identidade e da diferença criam obstáculos para que se quebrem os limites. Pode um ser humano transitar entre diferentes grupos sem que tenha prejudicada a sua identidade e que tenha a manutenção de seu poder dentro da sociedade? Esta questão se torna fundamental para entendermos quais são os resultados das diferenças. As diferenças criam limites entre as pessoas. As diferenças podem ser impostas ou podem ser requeridas, mas ao final serão processos que separam. Uma pessoa que não se identifica a nenhum grupo deve se isolar ou ficaria isolada? Mesmo sendo uma hipótese saberíamos qual seria o resultado. Mesmo não sendo isolada, fatalmente se torna enfraquecida.
Os sistemas de diferenciação contribuem para um melhor controle social. Quando se está representado por um grupo, que nada mais é que uma imagem composta artificialmente e podendo ser traduzida de forma simplificada, mais fácil de ser percebido e classificado e, portanto, criam-se mecanismos de controle caso haja necessidade. No entanto, esta primeira imagem nunca poderá exprimir uma representação mental e interior individualizada. Há em nossa sociedade vários exemplos tais como: um religioso assassino. Por meio de uma imagem de grupo seria impossível imaginarmos que um religioso poderia ser um assassino. Para tal situação, pensamos como um “desvio”. Assim acontece em muitos casos e podem ser provenientes de uma visão criada socialmente. Por exemplo: Desde criança o ensinaram que todo drogado é um vagabundo, sujo e que fica a perambular pela cidade a não fazer nada, no entanto, um dia se deparou com um colega de aula que se drogava, mas andava bem vestido, estudava, enfim, tinha uma vida, aos olhos vistos, normal. E mais, antes de saber deste fato tinha boas conversas e o tinha como amigo. O que acontecerá depois não interessa, mas que houve uma quebra de paradigmas, pois a drogatização ainda é um fato a ser escondido. Ao garoto que conheceu o amigo “ drogado” pôde quebrar alguns paradigmas interiores, ou não, e se libertar de alguns preconceitos. Mas no caso do drogado? Para ele seria vantagem buscar os seus direitos e formar um grupo diferenciado? Para sociedade sim. Mais fácil seria localizá-lo, criar regras e padrões de comportamento para tal grupo.
A busca de identidade por meio das diferenças tem como resultado a ampliação do poder, a obtenção de direitos, a conquista de espaços, mas por outro lado, se limitam os movimentos entre as pessoas que não se sujeitam à grupos e essas pessoas podem ser muitas. Pode acontecer de pessoas que não participam de grupos por medo de se exporem à preconceitos. Há os que transitam entre os grupos e poderão sofrer de isolamento, pois tem uma participação parcial dentro das relações de poder que se instituem entre os grupos e assim se tornam excluídos. Esta determinação de identidade faz com que as relações individuais aconteçam de forma restrita à grupos e se estiver fora de grupos esta relação também é restritiva. Neste caso, a falta de identidade e da diferença podem ser fatores restritivos, mas estes fatores não são impostos? Devo me considerar diferente? Devo ter um grupo?