Wednesday, September 28, 2011

A Identidade e a Diferença como Redutoras


 Acho o assunto polêmico e por meio desta resenha crítica do texto de Tomaz Tadeu da Silva faço algumas reflexões, polêmicas é claro, mas espero que gere algumas discussões, mesmo que contrárias.

Retomando aquele primeiro exercício feito em aula, onde colávamos em nossa testa alguns rótulos e a partir deles nos relacionávamos com os colegas faço aqui uma referência ao artigo “Produção Social da Identidade e da Diferença” de Tomaz Tadeu da Silva. À procura de identidade o ser humano busca os seus pares, busca seus semelhantes, constrói os seus grupos de convivência. Em princípio, procura uma convivência pacífica, no entanto, alarga as diferenças. Neste caso a identidade parece ser mais redutora ainda, pois quando nos identificamos procuramos, em poucas palavras, definir como somos e conforme o texto “Sou brasileiro e ponto”. Por trás desta afirmação podemos encontrar algo não tão redutor e criador de diferenças, pois sendo brasileiro não sou argentino, não sou português e assim por diante. Neste sentido, aumentam-se as diferenças. Ao mesmo tempo que a expressão serve como redutora, pois não haveria tempo de elencar as negativas para que as pessoas possam compreender que sou brasileiro, o que está em questão é a própria redução de identidade visto que buscamos nos reduzir e não ampliar. Até que ponto a identidade e a diferença são redutoras? Questões de raça, gênero, opção sexual são formas de reduzir e mecanismos de fácil identificação? Sabemos que nos dias de hoje estas questões estão em pauta e merecem certas reflexões acerca de seus resultados no meio social. Questões como estas estreitam ou distanciam as “ diferenças”.
“A identidade e a diferença tem que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social.”(pág.1) A própria identidade e diferença faz com que os choques se tornem inevitáveis. A construção de identidade passa por várias formas de conduta que nos moldam com o tempo, nossas vestes são reflexos desta construção, homem não usa saias e isto inclui a nossa própria língua que codifica fonemas que são estreitamente ligados aos seus significados. A palavra cachorro não teria nenhum significado, como a palavra “abadacatum”, se não fosse a existência do animal. Conforme o texto, que faz referência à Ferdinand de Saussure, “Em outras palavras a língua não passa de um sistema de diferenças”. Inclusive, poderíamos aprofundar as questões ao uso das palavras se usássemos a palavra cachorro se referindo a um ser humano, seria outra significação. Para Derrida, a palavra como símbolo pretende substituir a presença, mas por meio da diferença, sendo assim, não consegue substituir absolutamente o conceito e a presença. Conforme o texto “O exemplo da consulta ao dicionário talvez ajude a compreender as questões da presença e da diferença em Derrida...A definição do dicionário simplesmente nos remete para outras palavras, ou seja, para outros signos.” ( pág. 2)
Mesmo que as identidades são frutos de uma relação de poder e por isso são impostas, na presença com a pessoa vitima desta imposição temos a possibilidade de quebra do preconceito ou manutenção deste. A quebra se dá mediante o conhecer, enquanto a manutenção é a fuga. Este exemplo de relação esta ligado a um fato isolado e individual, mas se analisarmos os grandes grupos que buscam a diferença estamos falando de relações de poder. Ser diferente e assumir diferenças também busca-se privilégios e direitos dentro da sociedade. A busca da diferença, mesmo que esta seja a troco de algumas exclusões, pode demarcar um território de forças, no momento que estão demarcados os territórios da diferença, que se inclui, pode usufruir de uma segurança dentro do grupo, mesmo que este seja alvo de preconceitos. Mesmo que no texto as oposições binárias se manifestam de forma desequilibradas entre os polos, mesmo assim, tudo dependerá do ponto de vista da observação. Nas relações de poder a exclusão pode acontecer de forma sutil. Para Que possa pertencer a um grupo que detêm uma certa relação de força em um campo específico, tem-se sujeitar às ordens e regras que regem o grupo.
Surge uma questão: Há como fixar uma identidade fora de um padrão binário, de oposição? Ao construirmos a identidade logo nos sujeitamos às diferenças. A identidade nacional irá definir-se por meio de limites geográficos e linguísticos que podem se tornar padrão, mas há realmente esta possibilidade? Ela não será arbitrária? No Brasil por exemplo, mesmo com os limites estabelecidos possuímos nações indígenas que pouco conhecem a nossa língua, mas são tidos como brasileiros e sujeitos às nossas leis. Mesmo neste exemplo amplo de construção de identidade coletiva podemos notar algumas arbitrariedades. Diminuindo o campo a ser analisado, aumentam-se os grupos e também as diferenças. Grupos políticos, étnicos, raciais e de gênero também impõe suas diferenças, não estamos discutindo direitos e sim o que produz as diferenças e se há diferença elas que produzem preconceitos, oposições e assim por diante. Na sociedade contemporânea há uma necessidade do cidadão de incluir-se dentro de um grupo, para que dele possa usufruir de direitos e força nas relações de poder. Sendo assim, a busca da identidade e da diferença criam obstáculos para que se quebrem os limites. Pode um ser humano transitar entre diferentes grupos sem que tenha prejudicada a sua identidade e que tenha a manutenção de seu poder dentro da sociedade? Esta questão se torna fundamental para entendermos quais são os resultados das diferenças. As diferenças criam limites entre as pessoas. As diferenças podem ser impostas ou podem ser requeridas, mas ao final serão processos que separam. Uma pessoa que não se identifica a nenhum grupo deve se isolar ou ficaria isolada? Mesmo sendo uma hipótese saberíamos qual seria o resultado. Mesmo não sendo isolada, fatalmente se torna enfraquecida.
Os sistemas de diferenciação contribuem para um melhor controle social. Quando se está representado por um grupo, que nada mais é que uma imagem composta artificialmente e podendo ser traduzida de forma simplificada, mais fácil de ser percebido e classificado e, portanto, criam-se mecanismos de controle caso haja necessidade. No entanto, esta primeira imagem nunca poderá exprimir uma representação mental e interior individualizada. Há em nossa sociedade vários exemplos tais como: um religioso assassino. Por meio de uma imagem de grupo seria impossível imaginarmos que um religioso poderia ser um assassino. Para tal situação, pensamos como um “desvio”. Assim acontece em muitos casos e podem ser provenientes de uma visão criada socialmente. Por exemplo: Desde criança o ensinaram que todo drogado é um vagabundo, sujo e que fica a perambular pela cidade a não fazer nada, no entanto, um dia se deparou com um colega de aula que se drogava, mas andava bem vestido, estudava, enfim, tinha uma vida, aos olhos vistos, normal. E mais, antes de saber deste fato tinha boas conversas e o tinha como amigo. O que acontecerá depois não interessa, mas que houve uma quebra de paradigmas, pois a drogatização ainda é um fato a ser escondido. Ao garoto que conheceu o amigo “ drogado” pôde quebrar alguns paradigmas interiores, ou não, e se libertar de alguns preconceitos. Mas no caso do drogado? Para ele seria vantagem buscar os seus direitos e formar um grupo diferenciado? Para sociedade sim. Mais fácil seria localizá-lo, criar regras e padrões de comportamento para tal grupo.
A busca de identidade por meio das diferenças tem como resultado a ampliação do poder, a obtenção de direitos, a conquista de espaços, mas por outro lado, se limitam os movimentos entre as pessoas que não se sujeitam à grupos e essas pessoas podem ser muitas. Pode acontecer de pessoas que não participam de grupos por medo de se exporem à preconceitos. Há os que transitam entre os grupos e poderão sofrer de isolamento, pois tem uma participação parcial dentro das relações de poder que se instituem entre os grupos e assim se tornam excluídos. Esta determinação de identidade faz com que as relações individuais aconteçam de forma restrita à grupos e se estiver fora de grupos esta relação também é restritiva. Neste caso, a falta de identidade e da diferença podem ser fatores restritivos, mas estes fatores não são impostos? Devo me considerar diferente? Devo ter um grupo?



Friday, September 9, 2011

O TEMPO NA CONSTRUÇÃO DOCENTE Reflexões a partir do texto "Saberes, tempo e aprendizagen no magistério"

"Eu vejo o futuro
repetir o passado
Eu vejo um museu
de grandes novidades"
Cazuza - O tempo não para
Conhecimento adquirido e conhecimento praticado, não sei se seriam expressões corretas, mas que as utilizo para uma melhor compreensão daquilo que escrevo. Em nossa formação vamos adquirindo um conhecimento por meio de leitura de textos, estruturas de currículo, planos de aula e etc. A prática consiste em colocar em funcionamento todo este conhecimento e se torna fundamental ao professor a vivência em sala de aula. Enquanto a universidade nos possibilita um contato maior com a teoria, a sala de aula nos proporciona o contato com a práxis e sem ela não haveria o porque da teoria. Até que ponto teoria e prática convivem em harmonia? Qual a postura do professor em relação à sua prática e de que forma coloca em funcionamento seu aporte teórico?
No texto aparece a expressão Knowledge e nos dá duas interpretações distintas ou complementares. A primeira seria a experiência adquirida em sala de aula e transformada em programas de formação de professores e que depois possam servir de base à prática docente. A segunda, que além de englobar os conhecimentos adquiridos durante a formação, levam em conta a cultura pessoal e profissional, a socialização escolar, isto é, um aprendizado holístico. Vejo as duas interpretações como complementares, sendo que a primeira sofre riscos acerca da postura do professor em relação ao seu objeto, o aluno. Seria como se fosse um cientista propondo algumas experiências em busca de resultados, uma forma de ação e reação. Para que estas experiências e pesquisas e seus resultados sejam pertinentes há um detalhe no processo, se é assim que pode-se chamá-lo, científico, é que o cientista, neste caso o professor, também está envolvido no processo, sendo assim, observador e objeto são passíveis de hipóteses, mas alheios a reprodutibilidade. Não há como reproduzir as experiências, pois toda e qualquer formação docente e escolar estão sujeitos ao tempo. Um acúmulo de experiências transformam, mas não se reproduzem com exatidão. No entanto, ainda pode-se encontrar professores em busca de padrões, programas e fórmulas para aplicar em aula, mas o tempo neste caso é implacável, ele não para e pode tornar absoleta qualquer regra e padrão.
O ambiente escolar é o espaço em que o tempo flui e renova os conhecimentos, principalmente no que se refere a sua aplicabilidade. Conforme o texto: "...sua integração e sua participação na vida cotidiana da escola e dos colegas de trabalho colocam igualmente em jogo conhecimentos e maneiras de ser coletivos, assim como diversos conhecimentos do trabalho partilhado entre os pares, notadamente a respeito dos alunos e dos pais, mas também no que se refere a atividades pedagógicas, material didático, programas de ensino etc" Mesmo que pesquisas produzam um bom material teórico, resultado de observações e também experiências de dentro de sala de aula o texto aponta para um fato importante e neste sentido busca chamar a atenção do professor no uso destas ferramentas "... a proliferação dessas tipologias simplesmente deslocam o problema e torna impossível uma visão mais compreensível dos saberes dos professores como um todo" A construção de saberes acumulados não descartam teorias, mas as encharcam de vida e flexibilidade.
Ao mesmo tempo que o texto ressalta a experiência anterior à experiência docente, a construção de todos estes esquemas, hábitos, regras e assim por diante, dá-se em dois espaços fundamentais: a família e a escola, e estes dois imersos na sociedade. São experiências primeiras e os seus esquemas resultantes, de uma forma ou outra, acompanham a vida. Ao retornar à escola, agora como professor, todo e qualquer esquema estará sujeito a uma revisão, não em termos só de transformação, mas de um lembrar-se, nem sempre consciente, mas de uma forma ou de outra coexistirá com a experiência docente e o aporte teórico, num constante movimentar-se.
EM RELAÇÃO ÀS PESQUISAS
As pesquisas de Raymond, Butt e Yamagishi em 1993 na formação de futuros professores no Canadá apontam para importância da escola na formação, não somente do professor, mas do cidadão em geral. Não obstante, observa as conseqüências resultantes de uma educação voltada ao conceito de depositar o conhecimento e encontrar padrões eficazes para assimilação do conteúdo. Pode-se perceber que tais alunos-professores descartam a participação do aluno no processo de apreensão do conhecimento, como se o professor tivesse a tarefa, tão somente, de passar o conteúdo, e para tanto, tivesse que usar métodos verticais de educação. Estar-se-ia diante de uma convenção de professor advinda da própria condição de aluno. Pode-se perceber uma transposição de experiência de aluno para professor.
Na pesquisa de Lessard e Tardif de 1996 a 1999, além de encontrar algumas similaridades em relação à pesquisa anterior, encontra-se a tradição como escolha da profissão docente, principalmente entre as mulheres. Este fato histórico, é facilmente observável, inclusive no Brasil, visto que o magistério era uma forma de independência para mulher que na época gozava de pouca liberdade e acesso à outras profissões. Atualmente este quadro sofre pequenas mudanças com a inserção de homens em disciplinas que antes eram exclusivas das mulheres. No entanto, algumas máximas se perpetuam como “ensinar é um dom”, “ensinar é uma arte”, “para ensinar deve-se gostar de crianças” enfim, educar passa a ser um sacerdócio. Neste sentido, os autores apontam para alguns problemas decorrente destas convenções, visto que elas contribuem para a manutenção de uma estrutura obsoleta em sala de aula. O aspecto positivo é a predisposição à carreira, porém ela deve passar por toda outra construção que é a dos saberes profissionais.
O texto assinala uma primeira fase do professor recém chegado à profissão: da visão idealista para a realidade do trabalho. Conforme o texto, percebe-se um choque, percebe-se desilusões, encontram-se dificuldades. Ao menos, na universidade, somos devidamente avisados. Não posso deixar de recordar, em uma visita de observação a uma escola, na sala de professores, as primeiras perguntas foram: Queres lecionar? Sabes quanto ganha um professor? E outras observações acerca dos alunos tais como: - Fulano de tal está doente... Enfim, conforme as palavras do texto o professor se torna “...ama-seca de uma turma de alunos cativos...” (Edy 1971 p. 185). Uma segunda fase em relação às normas internas da escola e a terceira em relação ao alunos.
Autores como Obram 1989, Vonk 1988, Griffin 1985, Feiman Nem ser e Remillard 1996, Lortie 1975, Gold 1996, Zeichner e Gore 1990 ressaltam outras fases como a da Exploração compreendendo de cinco anos a sete anos de profissão. Nesta fase o professor estaria lhe dando com as regras do jogo dentro da estrutura escolar. Estas regras envolvem, tanto os colegas de profissão, como também os alunos. A segunda fase envolve uma mudança na percepção de sua profissão estando mais atento aos processos de aprendizado do aluno, e por sua vez, mais seguro em relação a si mesmo. O texto aponta que todas estas fases e o tempo que cada uma acontece podem sofrer variações conforme as condições de trabalho.
Por fim, vencida estas fases o autor observa uma rotinização dentro da escola, ao mesmo tempo, que observa a complexa rede que envolve o ambiente escolar. Esta rede envolve vários aspectos como a disciplina, a estrutura curricular, a interface entre escola e sociedade, entre professor e família do aluno e pode-se encontrar outras tramas intrincadas neste processo. A rotina seria a melhor maneira de custumizar esta rede? Conforme o texto, a própria formatação da estrutura escolar sugere uma rotina como forma de garantir um modelo mais cômodo, mas que a personalidade do professor é preponderante quando há rotinização.
CONCLUSÕES
Concluo que o processo de aprendizado envolve tanto o aluno como o professor. Cada vez que entende-se mais a profissão docente também entende-se a complexidade das relações que acontecem dentro do ambiente escolar. Com certeza, surgem muitas dúvidas, surgem alguns percalços, um tanto mais complexos que outras profissões, pois o processo é de envolvimento. Entre outras conclusões, que estão expostas dentro do texto, vejo a importância de desconstruir algumas convenções acerca da nossa prática docente e nossa escolha por esta profissão. Esta desconstrução auxiliará a sociedade a compreender os desafios do professor e a importância desta profissão à sociedade. Ser professor não é sacerdócio, não é dom, mas nos aproximam do lado mais sensível do ser humano, talvez este fato gere algumas confusões, mas não estou aqui defendendo uma estrutura rígida de educação como se fosse uma fábrica, uma educação bancária. Defendo um envolvimento da sociedade no processo de educação, mas não intervencionista como está se dando ultimamente. A escola não fabrica pessoas, ela é a primeira oportunidade de nos reconhecermos como sociedade. A história constrói-se acumulando conhecimento e pondo este em movimento, juntamente com o tempo, por isso mesmo a escola se perpetua como espaço construído através dos tempos. Neste espaço, “ o tempo não para”, a nossa construção docente não para.

Tuesday, September 6, 2011

Meu Trabalho em Teatro de Bonecos.

  Olá pessoal!
    Quero partilhar com vocês um pouco de minha história em teatro de bonecos. Esta arte maravilhosa me possibilitou várias experiências artísticas e docentes.
Aí vai o endereço para conhecer este trabalho e também levá-lo às escolas.
http://carasdetotem.blogspot.com/
Um abraço

FACED: Um Lugar de Discussões e Aprendizados


   Ao final de mais uma aula, com debates acalorados em torno de temas importantes para nossa construção docente, percebo que a FACED é o nosso lugar de discussões e onde acontece uma verdadeira interdiciplinaridade. Para quem esteve presente à aula conduzida pela professora Mari Jane viveu mais um daqueles momentos de intenso aprendizado. O assunto gerou polêmicas, mas principalmente reflexões acerca das várias possibilidades estruturais de um currículo. A importância de sabermos quais formas existentes de organizar uma aula e organizar-se como professor também passa por reflexões acerca destas estruturas, e para tanto, divergir e concordar é o caminho mais que natural. Diga-se, de passagem, divergir e concordar são verbos essênciais para um bom aprendizado, portanto, podemos transportá-los para dentro da sala de aula.
    Quando chego à sala de aula, em meio a uma discussão intensa, percebo o quanto é rica a convivência que nos proporciona as disciplinas da FACED. Concluo que esta riqueza deve-se ao fato que a FACED estruturou-se dentro do conceito de interdiciplinaridade. Concluí o meu bacharelado no instituto de artes, mas nunca havia vivenciado, com tamanha ênfase, as experiências que proporciona as turmas compostas por alunos de vários cursos. Este detalhe é importante para perceber que os rótulos são uma forma arbitrária de perceber as pessoas. É gratificante ouvir um colega da educação física discutindo, com tanta propriedade, assuntos que leigos como eu pensaria que não fariam parte de sua construção docente. Mas como não? Foucault não falou na disciplina dos corpos? Vamos educar os corpos? Muito bem... Educação física... Qual tipo? Com certeza, o caro colega sabe de sua importância no desenvolvimento dos alunos. Estes outros olhares me fascinam por apresentarem pontos de vistas, não distantes, mas permeados de vivências outras que não somente o mundo das artes. Esta é minha oportunidade de arejar o conhecimento, colocá-lo em movimento para que se renove e volte com mais força e propriedade. Conviver com o pessoal da Geografia, das Artes Plásticas, do Teatro, da Biologia, enfim, todos os cursos possíveis, possibilitam, num futuro próximo, convivermos em harmonia dentro das escolas e podermos aplicar o conceito de interdiciplinaridade.
    Muitas vezes ouvi críticas à FACED, creio que estes críticos não percebem a importância das discussões em sala de aula, não percebem que aprendizado não é somente conteúdo. Todo e qualquer conteúdo que não passar por reflexões é conhecimento morto, todo e qualquer professor que fugir à discussão é professor " depositário", mais afeito a "educação bancária". Só tenho que agradecer e aproveitar a oportunidade de convivência com colegas tão ricos em conhecimento e a professores que realmente colocam em prática o conteúdo, mas para que isto aconteça temos que ter espaços como a FACED. Sendo assim, temos que defender este espaço de diálogos, de trocas, de intercâmbio, de interdiciplinaridade.
Parabéns colegas, professora Mari Jane e professora Nádie.

   Charles Kray
  


       

Monday, September 5, 2011

A Construção Docente e a Vida

   
Muitas vezes percebo que minha identidade como futuro professor vem se construíndo ao longo da vida, então, poderia dizer que minha identidade como professor não faz parte do futuro, e sim, do presente. Minhas primeiras experiências como professor deram-se no teatro, minha profissão atual. Nem mesmo minha profissão foi uma escolha. Percebo que a vida me colocou em situações que acabaram mudando drasticamente todos os meus planos de infância e adolescência. Até a conclusão do ensino médio, pensava em ser contabilista, para tanto, fiz um curso técnico em contabilidade, mesmo que na época já atuava em um grupo de teatro.
    O teatro era visto como prazer, uma forma de estar perto dos meus amigos e partilhar uma nova forma de perceber o mundo. Esta nova forma de perceber o mundo eram os primeiros sintomas de algumas transformações que a vida propôs, nem ao menos tinha consciência disto, mas aconteciam e este fato foi decicivo para os acontecimentos que viriam a partir daí. Concluído o ensino médio fui cursar Geografia, na impossibilidade de outro curso, pois no interior haviam poucas alternativas. Pois foi justamente na universidade, após a apresentação do espetáculo que participava, que surgiu o convite que acabaria mudando a minha vida. No camarim, ao final do espetáculo, uma diretora me convidou para participar de um grupo de teatro profissional, para tanto, deveria fazer escolhas importantes, sair de casa e abandonar o curso de Geografia. Foi o que fiz. Me arrependo? Não teria como, o fluxo da vida é mais forte que os padrões que recebemos durante nossa vivência em família.
    Três anos depois desta escolha surgia os primeiros convites para ser professor de teatro. A primeira experiência foi na FEBEM provisória em Tramandaí. Trabalhava com menores em situação de risco, aqueles meninos de rua que se aventuravam nas prais durante o verão e, para que não ficassem perambulando pelas ruas, eram recolhidos e recebiam alimentação e lugar para dormir. Foi uma experiência fantástica, mas que durou apenas três meses. Terminado este projeto decidi morar em Santa Cruz do Sul, e por coincidência, além de dar aulas no SESC, fui convidado a dar aulas para estudantes em situação de risco no conselho tutelar do município. As duas experiências foram fantásticas, mas por incrível que pareça, não me via como professor, até porque continuava minhas atividades de diretor de teatro e agora com um grupo por mim fundado.
    Tudo acontecia de forma sutil, parecendo coincidência, acaso ou natural. Elaborei um projeto para dar aulas na APAE, sem pretensões, mas  que foi aprovado na camâra municipal e acontecia assim, outra experiência fundamental para minha construção como docente na área de teatro. Sendo assim, toda a minha experiência como diretor de teatro, bonequeiro e ator foi permeado com experiências docentes. Ao construir este texto de introdução busquei na memória todos esses momentos e percebo que a vida nos constrói como professores e aprendizes como muito bem relatou Paulo Freire: " ...no momento que ensino, me educo..."
    Resgatando esta memória, consigo ver com mais clareza o porquê das escolhas que fiz, o porquê da licenciatura em artes visuais ter se tornado mais importante que o bacharelado. A vida não nos impõe caminhos, mas faz com que nossas escolhas passem a fazer parte de um construir-se. Nossa identidade é uma construção docente, onde ensinamos e aprendemos e dentro da sala de aula não poderia ser diferente. A sala de aula e a vida devem conviver em total harmonia, até porque não há como separá-las, e para tanto devemos estar preparados para as escolhas que irão surgir. Esta foi uma breve apresentação deste blog que quero construir juntamente com as experiências magníficas que surgem na UFRGS e principalmente na FACED. Creio que o verbo compartilhar vai ser o link mais utilizado nesta disciplina de Identidade Docente.
    Charles Kray